Quem foi Enedina Alves Marques

Enedina Alves Marques foi a primeira mulher diplomada em Engenharia Civil na região Sul do Brasil, em 1945. A sua formatura foi marcada como um fato de grande curiosidade para a sociedade curitibana, por ter conseguido transpor um espaço hegemonicamente masculino e branco. Aos 32 anos, a curitibana Enedina foi o destaque na solenidade de formatura de Engenharia ao lado de 32 homens, no prédio Palácio Avenida, no Centro de Curitiba.

Enedina Alves Marques

Ainda no evento, houve um estranhamento dos convidados no momento de entrega do diploma porque até o final da época da Segunda Guerra Mundial, em Curitiba as mulheres que queria seguir alguma carreira, em sua maioria, eram professoras. Na formatura, Enedina foi acompanhada pela madrinha Iracema Caron e o marido, que lhe deram de presente o vestido para o evento.

Os pais e os familiares de Enedina não estiveram nos eventos que marcaram a diplomação da filha, embora fossem vivos. Os pais Paulo Marques e Virgília Alves Marques, casal de negros, chegaram à Curitiba na busca de melhores condições de vida, sem registro de sua exata procedência, mas provenientes do êxodo rural ocorrido após a abolição da escravatura em 1888. Dona Virgília, conhecida como Dona Duca, foi doméstica, cuidou da casa, da família e trabalhou como lavadeira para várias famílias, para ajudar a manter as despesas domésticas.

Mas o casal separou-se e Dona Duca, juntamente com alguns filhos, sendo Enedina a única mulher, foi trabalhar e morar com a família do paranaense militar   intelectual   republicano   Domingos   Nascimento, no   bairro Portão, então localizado nos arredores de Curitiba. Conta-se que mesmo depois da morte do patrão em 1915, Dona Virgília, Enedina e alguns dos seus irmãos continuaram a trabalhar e viver com a família Nascimento durante mais de três décadas.

Ela teve uma infância pautada no aprendizado e no fazer das tarefas domésticas, como era comum às crianças de classes mais baixas da sociedade curitibana do período.

A adolescência de Enedina foi marcada pelo trabalho doméstico   em   casas   de   famílias e   a   diplomação   como professora normalista em 4 de dezembro de 1931. Contudo, entre os anos de 1932 e 1935 ocorreu uma pequena interrupção nas atividades como empregada doméstica, pois ela se tornou professora da rede pública de ensino em diversas cidades no interior do estado.

O retorno de Enedina ao trabalho doméstico, na casa da família Caron, mesmo sendo professora, a teria impedido de alcançar outros objetivos pessoais, como o ingresso no curso superior. Assim, ela buscou trabalhar e morar na casa de novos patrões, para superar a longa distância entre a e os novos espaços de formação educacional.

Trajetória Educacional de Enedina

Enedina foi uma aluna   inteligente e aplicada nos estudos. A sua alfabetização foi efetuada aproximadamente aos 12 anos, na Escola Particular da Professora Luiza Netto Correia de Freitas. Em seguida, fez o exame de pró-eficiência e foi transferida para o grupo escolar anexo à Escola Normal, onde concluiu o curso primário e o complementar, sempre durante o período noturno.

Em 1926 ingressou na Escola Normal Secundária, o Palácio das Instruções, situada na Rua Emiliano Perneta, esquina com a Rua Voluntários da Pátria, onde recebeu o diploma que a credenciava ao ensino.

Em 1935 Enedina lecionava e retornou à sala de aula na condição de aluna para se qualificar através do Curso Madureza no Ginásio Novo Ateneu, até 1937. O mesmo se enquadrava nas novas determinações das leis de educação do Estado, que reproduziu o Artigo 100 do Decreto Federal.  Dentre as novas determinações estava aquela que os professores deveriam fazer uma capacitação profissional de três anos para o exercício do ofício de professor com recursos próprios e um curso complementar para ingresso em curso superior. A passagem de Enedina pelo curso complementar de Pré-Engenharia aconteceu entre os anos de 1938 e 1939.

Características de Enedina

Enedina Alves Marques foi uma mulher forte, resiliente, pioneira, ousada, corajosa. Toda a história de Enedina é muito forte, muito marcante e sofrida também, embora ela não se queixasse deste sofrimento. Ela empregava toda a sua energia para superar qualquer obstáculo que surgisse (ou fosse colocado) em seu caminho sem manifestar raiva ou mágoa de ninguém.

Enedina aliou capacidade intelectual com força e determinação e aproveitou todas as oportunidades que surgiram em sua vida. Também soube criar oportunidades para mudar o destino que aparentemente estava traçado para ela. Essa mudança foi por meio da educação. Não mediu esforços para alcançar seus objetivos.

Algumas de suas características são impressionantes: força, coragem, resistência, ousadia (sonhar ser engenheira, sendo uma mulher negra e pobre a ingressar na UFPR) e capacidade de sonhar com um futuro diferente do que era pensado para mulheres como ela.

Ela passou por situações como ser a única mulher em um curso pensado para homens; ser a única pessoa negra em um ambiente pensado para homens brancos; ser pobre em um curso para ricos. Foi este o ambiente que Enedina teve que enfrentar para conseguir realizar seu sonho de ser engenheira e abrir caminhos para outras tantas mulheres no campo da Engenharia.

Fonte:

SANTANA, Jorge Luiz. Enedina Alves Marques: a trajetória da primeira engenheira do sul do país na Faculdade de Engenharia do Paraná (1940-1945). Revista Vernáculo, nº 28, 2º sem/2011 (https://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/view/33232/21293)

CASAGRANDE, Lindamir Salete. Enedina Marques: mulher negra pioneira na engenharia brasileira. 2021.